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FILOSOFIA ESPÍRITA

CLARIVIDÊNCIA - I

DEZEMBRO/2.015

Joel Fernandes é Médium e Filósofo

Como todo mundo diz em voz corrente e boa, “também quero saber o que vem a ser essa capacidade, a de ter ou de ser clarividente”. É ela muito antiga, apenas antiga, ou sempre existiu? Qual ciência se interessou em estudá-la? E ainda hoje estudamo-la?

Esses tipos de interesses, ocorrentes em noticiários ou em saletas sociais, não chegam a nos expulsar dos braços de Morfeu, mas, por outro lado, incomodam-nos bastante, não obstante desconhecermos haver se tornado uma ciência física ou psíquica, ou dito noutros termos: se ocorre devido à ação do nosso corpo ou do nosso psiquismo.

Na pergunta 402 d’“O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec trata duma "espécie de clarividência" ocorrente durante os sonhos quando nestes a alma dispõe da faculdade de perceber eventos acontecendo noutros lugares. Ei-lo, portanto, aplicando o termo como sendo a faculdade de ver à distância, porém sem o emprego dos órgãos visuais. E esses sonâmbulos seriam os indivíduos capazes das realizações desses fenômenos devidos às faculdades de afastamentos das almas dos seus respectivos corpos, seguidas ainda das locomoções destas. E, na 432, explicam-nos os Espíritos superiores: “Durante o sono, a alma não se transporta? O mesmo se dá no sonambulismo”.

Na verdade a clarividência provém dum estado físico conducente do sujeito, seu possuidor, a outro estado, o de alteração da consciência, qual seja, o do sonambulismo –  “um estado de independência do espírito, mais completo que no sonho, no qual maior amplitude adquirem suas faculdades. Então a alma tem percepções não disponíveis no sonho, que é um estado de sonambulismo imperfeito”. Eis a descrição do sonambulismo natural, fenômeno produzido espontaneamente.

Existem algumas pessoas dotadas duma organização especial que podem, através de ações magnéticas, entrar em estado sonambúlico, que neste caso é denominado “sonambulismo magnético”. E se pudemos tomar o sono como parâmetro, por ser universal, então não estaríamos errados ao afirmar que a clarividência é um das muitas situações mais profundas que aquele. Contudo, ela também pode ser provocada como, por exemplo, por um mero magnetizador-hipnotizador, fato de todos conhecido.

Mas, como a curiosidade humana não é menor que a dos animais, nasce a pergunta: o que há de tão importante assim na clarividência? Há o fato de, suspenso o órgão da visão que se encontra, digamos assim, “desligado”, seu proprietário ainda poder ver e perceber, independentemente da atuação do sistema nervoso central. Eis o que tanto nos intriga bem como os médicos e psicólogos envolvidos na área da saúde psíquica. Por que? Ora, por ele conseguir enxergar a distâncias longas! Como é possível tal proeza?

A resolução dessa questão complexa aos neurólogos, psicólogos, e também aos estudiosos dos efeitos das drogas, é bem simples, fácil mesmo: é nossa alma quem vê, desde que aceitada e entendida em a termos, de vir a ser imortal, e de estar acoplada ao corpo denso em nova reencarnação para se curar de seus deslizes morais cometidos em vidas anteriores.

Aquele sujeito-percipiente possui uma estrutura nervosa facilitadora, entretanto, onde se localiza? Segundo informações seguras do Espírito André Luiz (1.944), transcritas em livros psicografados por Chico Xavier, e confirmadas, em 1.953, pelo médico inglês Aaron Lerner e colegas, tal estrutura produz quatro  hormônios importantíssimos por nos provocarem reações comportamentais: trata-se da pineal.

E o sujeito vê pelos olhos? Claro que não, pois, se os meios da visão natural e os da visão clarividente são diferentes e notáveis, por serem contrários, não devemos nos pasmar: seus efeitos têm que ser diferentes. E isso nada tem a ver com o Espiritismo, pois trata-se dum fato, aí no mundo.

Quer saber mais? Aguarde a continuação do tema na edição posterior.

O ANÚCIO

NOVEMBRO/2.015

Joel Fernandes é Médium e Filósofo

O Novo Testamento é, realmente, curioso, além de ser instigante à curiosidade. Senão, vejamos apenas um tópico, devido ao nosso espaço ser exíguo: o tópico do “consolador”. O que é? Quem falou dele pela primeira vez? E já aconteceu, tornando-se real? Eis as questões advindas após o seu anúncio.
Foi Jesus quem, ao anunciá-lo, apresentou-nos, imediatamente, o que este seria, bem como a sua finalidade: “um outro consolador”, cujas diferenças, em relação ao primeiro, ou seja, ao trazido por Jesus, seria a de  ficar conosco, para sempre; que ele – o  “consolador” –, já era o Espírito da Verdade, mas, entretanto, o mundo não o podia receber por não o ver nem o conhecer; que vós – os apóstolos e, talvez, mais alguns ouvintes – o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós. E ainda: “Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros”. Consequentemente, tal “consolador” relaciona-se fortemente ao Mestre de Cafarnaum. 
Todavia, não podemos deixar de ver que os nossos entendimentos, assim como os de todos os seus seguidores apostólicos, tornaram-se obscurecidos por carecerem de informações determinantes da natureza daquele novo ser prometido, pois, quanto à sua vinda, isso estava bem mais do que certo, na medida em que o Pai, ou o próprio Deus, o concederia, contudo, não obstante: afinal, o que é o “consolador”, ou em Grego,“paráclito”, termo de características tipicamente joaninas, ou seja, tipicamente utilizado apenas pelo evangelista? 
Trata-se dum ser ativo, conciliador, apaziguador, auxiliador, socorredor, e protetor, portanto, tem que ser gente e homem, pois, ao fim, não teria que ser o “Espírito da Verdade”? E, curioso, o paráclito não seria o substituto de Jesus, mas sim o seu continuador, porquanto os doze já tinham conhecimento dele por este já habitar neles e, agora colocando o verbo no futuro, “estará em vós”. Mas, na verdade, eles o desconheciam! 
Nesta altura, o que você responderia à sua mãe, por exemplo, sobre tão enigmático discurso e, em consonância, indecifrável? Seriam necessários mais dados a vir do Cristo. Mas somente em Jo 14:26 ele adiantou novos subsídios: “..., esse (consolador) vos ensinará todas as cousas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito”. Significaria isto que os doze se esqueceriam todos, numa unicidade improvável? Mas exatamente o quê os faria esquecer de absolutamente tudo? E fico a imaginar as perplexidades daquelas almas boníssimas, porém, ainda, profundamente emocionais e ignorantes. E o conceito do tema, incompleto ainda, redundaria, por necessidade, em Jo 15:26: “, ... esse (consolador) dará testemunho de mim”. E isto suscitou a comunidade dos seguidores que se perguntou: como assim, se nós vos vemos, mas, quanto ao consolador, por ser invisível, sequer o percebemos? A tensão oriunda daquela perplexidade inicial aumentava, porque o texto parecia espraiar-se na inteligência do Cristo, mas, ao invés, não acontecia o mesmo nas deles, faltando-lhes  uma definição clara. Ora, se já estava com eles, então quem seria, não obstante não conhecerem o“consolador”? Morreriam sem chegar a descobri-lo? Não, Jesus não permitiria, visto isso acabar por se constituir em brincadeira de péssimo gosto. 
Em Jo 16:7, o tema regressou: “Mas eu vos digo a verdade: convêm-vos que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vô-lo enviarei”. E aqui foi posta uma outra condição: a do Mestre ter que ir para o outro Consolador surgir. E em Jo 16:8, foi escrito:“Quando ele (o Consolador) vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça, e do juízo”. Seguiram-se a estes os versículos nove, dez, e onze, culminando no doze: “Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora”; e no treze: “Quando vier, porém, o Espírito de Verdade, ele vos guiará a toda verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as cousas que hão de vir”; e no catorze: “Ele (o consolador) me glorificará porque há de receber do que é meu, e vô-lo há de anunciar”.
Mas os séculos, ininterruptamente, deslizaram sem nada ocorrer referente ao assunto, desencarnando todos quantos viram o Rabi galileu nô-no prometer. Teria Jesus se enganado? 
Não! Apenas em 15 de abril de 1.864 aquele mistério seria desvendado pelo Espiritismo, doutrina inimaginável à época romana, pois, no Prefácio d’“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, sua mensagem, belíssima pelo consolo excelso que nos foi trazido, foi assinada alguém impensável à época, constituindo-se numa nova revelação: “O Espírito Verdade”
O descortínio intelectual de Jesus havia se antecipado à doutrina da Terceira Revelação, ou do Novíssimo Testamento.

O PORQUÊ

OUTUBRO/2.015

Joel Fernandes é Médium e Filósofo

Virou clichê! A imagem estereotipada pela repetição do conjunto de notícias diárias das barbaridades às quais o mundo vem sendo submetido num fenômeno tão antigo quanto ele mesmo: a violência. Mas, para os crentes fervorosos do Antigo Testamento, o barbarismo não mais chama atenção, visto lá encontrarmos o primeiro assassinato invejoso e, pasmemos, contra o Criador (Gn 4:1-9)! 
De modo que tudo nos surge como se a brutalidade cega houvesse nascido fazendo par à ignorância adâmica e, por extensão racional, à do Divino, conforme (Gn 2:18 e 2:23), quando consideramos Seu esquecimento, no planejamento da humanidade, da necessidade existencial da mulher. E Sua “presciência”? É concebível um Deus assim, esquecido finitamente? Não, pois existimos; mas, se fosse possível, então o que seria de nós? Conclusão: existimos pelo erro divinal! E perguntamos: como tal ilogicidade conseguiu sobreviver até agora, qualificando-se para continuar por outro bom período? Esperamos, oxalá, não se perenize, considerando o homem já haver adquirido sua maioridade intelectual, inobstante continuar saboreando sua minoridade moral ao permanecer atado à incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção doutro indivíduo, conforme o pensamento de Kant (1.724-1.804). E nisso o homem carrega culpa própria por não tomar a decisão, corajosa, de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. 
Homens, tomemo-la, “aude sapere” (ousai saber), por ser esse o lema do “esclarecimento” racionalista. Contudo, pelo reverso, observamos a violência cotidiana. Quando conquistaremos a paz? Quando veremos nossos filhos alcançar suas razões e domar suas emoções infrenes para serem felizes? A se considerar o aspecto atual, não será para os séculos vindouros, lamentavelmente. O que nos aconteceu? Acomodamo-nos à violência? Será esse o lema do XXI: “Eternamente jovem”? Se for, pereceremos, inegavelmente. Não permaneceremos nessa minoridade moral o tempo todo, renunciando e confundindo-se com ela, mesmo não havendo nascidos prontos.
Temos um grande medo, quase universal, o medo de viver, quando consideramos as autoridades religiosas que, a nos imputá-lo sem quaisquer constrangimentos sob as formais existências dos Céu e Inferno – duas atrocidades a nos reterem na disputa pela retaguarda –, apequenam cada vez mais o homem na educação clara duma culpa atávica e, consequentemente, a de carregar consigo a tocha “sagrada” do brutamontes! Pois a punição de Iahweh a Caim não lhe chegou imediatamente, tornado “... maldito e expulso do solo fértil que abriu a boca para receber de tua mão o sangue de teu irmão. Ainda que cultives o solo, ele não te dará mais seu produto: serás um fugitivo errante sobre a terra” (Gn 4 !1-12)? Se a “Justiça” brutal nasceu exemplarmente de Deus, então exemplarmente aprendemos com ele a “lei de talião”: lavrador do solo, Caim, doravante, deste nada mais receberá. 
Por isso, pela violência iniciada por Deus, foi necessária a vinda de Jesus para entronizar dois códigos voluntários-conscienciais de decência: o do perdão e o do amor, nesta ordem porque, “se somos todos pecadores”, teremos que nos perdoar infinitas vezes antes de aprendermos a amar. Mas, no ato racional contínuo, como ser algum jamais aprenderá o que desconhece, então o fenômeno “amor” deve ser ingênito e, como tal, enflorescer-se-á apenas quando aquele Deus vingativo for exterminado dos nossos entendimentos para, em seu lugar, surgir o Ser Bom e Justo, Amoroso e Reto, o Qual nunca será temido por não comportar o atributo falso de ser “O Iawhe Vingador” por excelência! 
Eis por conseguinte o conceito do Deus espírita, “Inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”, resposta de indubitável maioridade moral, contida na pergunta um d’“O Livro dos Espíritos”. 
Ela está a nos revelar que a violência, ao fim e ao cabo, jamais foi divina, mas humana, devido à inferioridade moral planetária. Eis seu porquê. 
Leia “A Gênese, XIV, 45” e liberte-se das algemas de si próprio.

“POLTERGEISTS”

OUTUBRO/2.015

Joel Fernandes é Médium e Filósofo

    A palavra é alemã e serve para indicar fenômenos tão antigos quanto o homem: movimentações de objetos, bem como seus aparecimentos e desaparecimentos, luzes que piscam, sons indetectáveis, etc., sem que pessoa alguma os incremente. “Polter” significa “ruído; barulho”, enquanto “geist” significa “espírito; fantasma”.

     Na Parapsicologia – estudiosa dos fenômenos excepcionais-aberrantes por escaparem às leis conhecidas da natureza e do comportamento humano –, manifestam-se simplesmente deslocando objetos e fazendo ruídos. Considerados antigamente bruxarias ou manifestações demoníacas, tais conceitos caíram em desuso no XIX, passando a ser associados aos estados de perturbações de supostas almas desencarnadas, pois, segundo ela, existe grande diferença entre “poltergeists” e assombrações, mesmo aparentando coisas em comum: nos primeiros os epicentros são pessoas, enquanto nas segundas são lugares. Podem perdurar por séculos.

     Ficaram bem caracterizados em filmes nos quais portas e janelas abriam-se ou fechavam-se, louças dos armários eram precipitadas ao chão, correntes barulhentas eram arrastadas pelos corredores, panelas voavam, copos e talheres espatifavam-se nos pisos, ... Os moradores, claro, assustavam-se muito e, infelizmente, há ainda hoje quem pretenda denegrir a Doutrina Espírita ao associá-los ao seu repertório, mas esta sabe-os serem anteriores à sua origem. Por isso respondemos à curiosidade mundial: há Espíritos neles? Sim, são os seus provocadores, porquanto os Espíritos não foram criados pela Terceira Revelação por existirem como uma das forças da natureza, força somente explicada na edição d’“O Livro dos Espíritos”, em Paris/França, em 1.857, obra básica de seu corpo de conhecimentos.

     Então os Espíritos interferem em nossas vidas? Correto e, de comum, dirigem-nos, apesar de não darmos conta disso. Digamos então: “contra tais ações não podemos fazer absolutamente nada, pois as causas, ou os telefonemas, provêm “de lá” “pra cá” e, assim sendo, reconhecemos nossos impedimentos com relação ao assunto”. Trata-se do mundo espiritual agindo sobre o mundo material, todavia este mundo também interfere naquele, pois todos os Espíritos terão que um dia, reencarnar, esperançosos dum planeta melhor. E duvido muitíssimo haver na Terra quem já não reconheceu tais inspirações a partir de certos pressentimentos.

     Em 16 de junho de 2.014, no Rio Grande do Sul, tornaram a ocorrer, chamando atenção da mídia e, a televisão, indo ao local, constatou, no momento, o caimento de pedras grandes sobre o telhado e no interior da residência. Ora, Espiritismo nada tem a ver com isso, exceto afirmar serem fenômenos nitidamente espirituais, visto nem todo espírito ser um espírito espírita, pois a desencarnação não dá passaporte aos ignorantes serem sábios nem aos desonestos serem moralizados. Visitem, no “google”, “poltergeist no Rio Grande do Sul”, para assistir ao estranho e violento evento – principalmente os seus desconhecedores, como as “religiões, ultrapassadas, da Tradição”, mas não os espíritas estudiosos do tema que, ocorrente, surpreende as pessoas levadas pelas ignorâncias das superstições e desconhecedoras das suas causas racionalmente conhecíveis: as espirituais.

    A família, que prefere não ser identificada, assustada e sem saber a quem recorrer, acionou a Brigada Militar e essa, mesmo sem encontrar explicações para os fenômenos, registrou uma ocorrência. Os policiais disseram-se espantados com os fatos observados: "Vimos pedras sendo jogadas ou caindo em cima do telhado e nas paredes. O detalhe é que não quebravam as telhas e nas paredes não ficavam sinais alguns delas", contou o Sargento João Aquino.

O casal, com três filhos, disse: "Jogavam pedras na casa, como uma chuva. A gente chamava a Polícia. Ela vinha, olhava por tudo, mas não enxergava nada. A casa estava toda fechada, mas se enchia de pedras por dentro. Depois de pequena calmaria, começaram a cair nos roupeiros".

     O produtor de vídeos, Gelson Luiz da Costa, foi até lá movido pela curiosidade. Com uma câmera fez imagens para registrar os fenômenos. No momento da gravação uma pedra caiu dentro da casa. Ele percebeu que a família precisava de ajuda e se empenhou em encontrar um médium para fazer um trabalho de exorcismo (!). Marli Freitas de Oliveira, 26 anos, namorada de Jorge Luís Andrades, parece levar consigo os “poltergeists” para todos os lugares onde vai.

     Curiosamente o fenômeno não se propagou para nenhuma das casas vizinhas, permanecendo restrito aos ambientes habitados pelos dez componentes da família. Sugerimos aos nossos leitores a leitura d’“O Livro dos Médiuns”, Capítulo IV.

SORTE OU AZAR?

SETEMBRO/2.015

Joel Fernandes é Médium e Filósofo

     Tão perseguida, e por quase unanimidade, a sorte depende, perguntemos assim, das “mãos” divinas ou humanas? E deixamos de citar o azar por este, sem dúvida, não se encontrar em nenhumas daquelas mãos, é claro, exceto nas de Lúcifer.

 

     Aliás, a expressão antiga, “Vade retro”, ou “retira-te, Satanás”, teria provindo da boca de Jesus-Cristo, conforme Mateus 4:10 e 16:23: na primeira ele teria se dirigido ao Diabo que o tentava e, na segunda, ao apóstolo Pedro, bastante temperamental, como sabido por todos, durante o período antecedente à crucificação.

 

     Para quem acredita na existência de Lúcifer, eis, acima, duas amostras “bíblicas-históricas”; mas, mesmo considerando a descrença espírita no maligno – entidade contrária às potências infinitas-perfeitas do Criador – e também pondo em dúvida o Mestre de Amor havê-las enunciado, passando-nos assim um exemplo péssimo de sua fulgurante inteligência espiritual, a questão “sorte ou azar” continua repercutindo mal em nossos ouvidos.

 

   “Sortudos”? Sim, há, como observamos, e para isso basta adquirir pelo menos um número, o futuro “número da sorte”. Só perderá quem não jogar. Contudo persistirão existindo os ganhadores de sempre: os banqueiros.

 

    Contudo, “sorte” seria exatamente o quê? Seria a força determinadora de tudo quanto nos ocorre e cuja causa seria atribuída ou ao acaso ou ao destino predeterminado? E este mesmo raciocínio valeria para o “azar”? E mais: seriam críveis os “acaso” e “destino”? No resultado, todavia, constatamos que o mais interessante foi ele não haver dependido, em absoluto, dos nossos livres-arbítrios, os quais somente foram usados quando escolhemos concorrer. E quando, porventura, for um jogo de vida ou morte, como o da coragem insensata duma “roleta-russa”? O final – sorte ou azar – será determinado pelo acaso naquela suposta fatalidade?

 

     Estamos agora centralizados em nossa questão máxima que, pelas suas dificuldades, mereceu da Espiritualidade um capítulo, o “da lei de liberdade”, constante d’“O Livro dos Espíritos”. Na pergunta 851, Allan Kardec consultou os Espíritos superiores: “Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme o sentido dado a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são predeterminados? E, neste caso, que vem a ser do livre-arbítrio? ”. Resposta: “A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao reencarnar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, que é a consequência mesma da posição em que vem a achar-se colocado. Falo das provas físicas, pois, pelo que toca às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de ceder ou de resistir. Ao vê-lo fraquear, um bom Espírito pode vir-lhe em auxílio, mas não pode influir sobre ele de maneira a dominar-lhe a vontade. Um Espírito mau, isto é, inferior, mostrando-lhe, exagerando aos seus olhos um perigo físico, poderá abalá-lo e amedrontá-lo; entretanto, nem por isso, a vontade do Espírito reencarnado deixará de se conservar livre de quaisquer peias”. E o assunto, após transitar pelas questões das: perseguições fatalísticas; momento crucial; escapar de morrer; antecipação do gênero de morte; acidentes; modificações daquela escolha; predestinação ao assassinato; tudo dar errado; etc., eis-nos diante da 865: “Como se explica a boa sorte favorecer algumas pessoas em circunstâncias com as quais nada têm que ver a vontade nem a inteligência: no jogo, por exemplo? ”. Resposta: “Alguns Espíritos escolheram previamente certas espécies de prazer. A fortuna que os favorece é uma tentação. Aquele que, como homem, ganha, perde como Espírito. É uma prova para o seu orgulho e para a sua cupidez”. E da 867: “Donde vem a expressão: ‘Nascer sob uma boa estrela’? ”. Resposta: Antiga superstição que prendia às estrelas os destinos dos homens. Alegoria que algumas pessoas fazem a tolice de tomar ao pé da letra”. Conclusão: sorte ou azar não existem.

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